terça-feira, 23 de setembro de 2008

Linha 022 - Via bairro do Pensar

É interessante como o ônibus faz parte da minha vida. Não. Equivoquei-me, acho que é o próprio ato de deslocar-se que é inerente e essencial a minha vida. Lembrei que também me desloco bastante a pé. Enfim, o lance é que o viajar permite que eu pense em várias coisas. Nas mais pitorescas, como me perguntar quem sentará ao meu lado na próxima viagem? Que tipo de pessoa será? Gorda, magra, simpática ou chata? E também no chamado de dilema existencial. Vou escrevendo em um pequeno papel, claro, quando os tenho em minha mochila ou guardo na cabeça mesmo e assim vou o trajeto inteiro matutando os engodos da minha vida. Engodos afetivos, profissionais e familiares. Penso que não são dilemas únicos. Dilemas de alguém que é extremamente complicado ou coisa parecida. Nada disso. Todos devem ter os seus também. São apenas os meus.
Mas com relação a isso que fiquei pensando em umas coisas. Parei e falei para mim mesmo:
- Caramba Alex! Já está na hora de parar de pensar nesses dilemas. Pula essa etapa cara! A troco de quê você fica pensando nessas bobagens? No fim das contas é tudo bobagem e todo mundo tem os seus dilemas...
Acho que pensei nisso tudo porque tava realmente cansado de discutir a estratosfera da minha vida e também porque havia lembrado da aula que tive. Recordo-me que determinado momento o professor criticou aquelas pessoas que viajam e que pensam demais sobre a sua vida “dilemizando” tudo. Ele estava fazendo referência ao existencialismo e a filosofia Sartreana. E acho que foi exatamente por isso que pensei essas idéias.
Contudo eu mesmo não concordo com o que falei para mim mesmo.
Veja, não estou aqui em defesa do Sartre, apesar de achar bem interessante o que ele diz. Mas não acho que sou alguém que faz da sua vida um dilema. Pelo contrário, sou um dos que dizem que a vida é simples mesmo. Pelo menos eu tento fazê-la simples.
Mas caramba, acabo de chegar a conclusão que preciso de alguns desses “dilemas” para viver.
Assim como preciso desses trajetos para me resignificar ou coisa parecida. O trajeto, o onde vou chegar, o encontro a me esperar, são exatamente as formas que eu vou digerindo, processando, não sei exatamente a palavra a ser utilizada aqui no momento, mas o viajar e o olhar as pessoas, a rua suja, o camelô, o pedinte, a menina e o pastor que prega a palavra me
permitem talvez e no mínimo poetizar. O trajeto que se faz nunca vai ser o mesmo, assim como eu, assim como essas palavras que não mais dão conta do que sou, sinto e vejo.
Quanto ao ir a pé. Acho que é história para outro dia, pois é fácil fácil lembrar do Leminski.


Andar e pensar um pouco,
que só sei pensar andando.
Três passos, e minhas pernas
Já estão pensando
Aonde vão dar estes passos?
Acima, abaixo?
Além? Ou acaso
se desfazem ao mínimo vento
sem deixar nenhum traço?

domingo, 21 de setembro de 2008

De onda em onda sigo em frente*

Pôr-do-sol na praia de Almofala - CE
Uma semana atribulada. Os trabalhos e estágios intermináveis da faculdade. Entre uma aula e outra a idéia certa vem: “eu preciso do mar, eu preciso surfar”. O tempo não dá brecha amigo, por isso resolvo todas as atividades, pendências e problemas acadêmicos, já que as ondas estão lá dentro, prontas para serem surfadas. Pode até parecer clichê, isto é, cada surfista nesse planeta em seu trabalho, faculdade, com um mesmo pensamento “quero surfar!”.
Bem, isso eu já não sei, o que posso dizer que não é somente o surfar, mas sim é a própria relação com água, o movimento e gesto criado, o pôr-do-sol contemplado, o bate papo dentro do mar com os amigos. No momento do encontro, a água fria que bate no corpo ainda coberto pela fumaça dos carros e do concreto dos prédios nos limpando e revigorando. Daí em diante é virar bicho. Ficar em silêncio, apenas contemplando o barulho da parede do mar batendo na água, o vento terral que bate no corpo que nos dá arrepio. É aprendizado, já que nem sempre pegaremos todas as ondas e que os outros companheiros também possuem o direito de pegar as suas “boas”.
Assim vou seguindo em frente, trazendo o mar na minha frente. Na espera de mais uma semana, mas já de olho na sexta-feira, dia que antecipa o encontro, o gesto, o movimento, a relação de aprendizado. Na despedida... Tristeza? Não. Gratidão e equilíbrio. Metamorfose do cotidiano, da vida, dos afazeres. Força para seguir as ondas do dia-dia.

*O título da postagem é também de uma canção composta pelo grupo que faço parte (Mahto Soulto)

sábado, 6 de setembro de 2008

Elaborar o luto...


Um psicanalista bem sucedido e que, aparentemente, tem uma vida super tranquila. Algo diferente para ser um filme? Sim. O Quarto do Filho (La Stanza del Figlio) nos mostra a vida de Giovanni (Nanni Moretti) um homem que, como já havia dito, tem como fazer lidar com as perdas, dores e sofrimentos de seus clientes. O distanciamento que é caracteristico do fazer psicanalitico é derrocado justamente quando seu querido filho morre e o coloca na mesma situação dos seus clientes. Daí em diante, o discípulo de Freud percebe quão é difícil viver e continuar sua vida em meio a perda, em meio distância de Andreas, o filho morto e de sua propria família que, claramente abala-se com isso tudo.
O resultado de toda essa trama é um ótimo filme que é revelador alguns dos incômodos que um analista pode passar. Revela-nos tembém que nem mesmo aqueles que sabem que é impossível voltar atrás no tempo, já que tanto falam disso, possuem um desejo como um grito. O grito de fazer tudo diferente.
Deixo aqui uma bela canção que compõe a trilha do filme e também adianto uma cena que me marcou.
http://br.youtube.com/watch?v=mUyZgXN6DBQ

http://www.youtube.com/watch?v=CA5sisIOna0


O Quarto do Filho (La Stanza del Figlio). 2001. Itália. Direção e Roteiro: Nanni Moretti. Elenco: Nanni Moretti, Laura Morante, Jasmine Trinca, Giuseppe Sanfelice, Sofia Vigliar. Gênero: Drama. Duração: 98 minutos.